Com o mercado
de transferências fechado, é altura de fazer uma análise ao “novo” Real Madrid.
Após o “descalabro” desportivo do ano transacto, causado sobretudo pela
falta de soluções em determinados sectores do plantel, Florentino Pérez decidiu
ir ao mercado em busca de novos recursos. Carlo Ancelotti foi o treinador
escolhido para liderar uma equipa com hábitos tácticos bem intrínsecos e com um
passado recente algo turbulento.
O treinador italiano veio com ideias claras e vontade de impor o seu estilo
de jogo. Para que isso aconteça, uma mudança no antigo plantel de Mou era
inevitável. A contratação de um jogador capaz de aguentar a posse de bola no
último terço sem risco de a perder, à imagem de Modric, mas com mais
verticalidade, mais finalização e mais capacidade no 1 para 1.
Ancelotti quer dominar a posse de bola, quer ataques mais pausados e
prolongados, quer uma transição defesa-ataque com maior identidade e
superioridade numérica.
“O clube mais prestigioso do mundo tem que
ganhar jugando um futebol espectacular”, disse Carlo no seu primeiro dia.
Reforçar o meio campo com médios interiores capazes de transportar a bola
como Modric ou Isco é o primeiro passo, mas não chega. A construção de jogo
dependerá sempre de um equilíbrio em ambas as alas, formado por triângulos base
estruturais. A linha de meio campo agrupa 5 jogadores chave na transição, com
Xabi Alonso a ser o preferido para comandar a saída de bola, seja pelas alas,
seja pelo espaço interior.
O técnico
italiano muda o sistema de jogo de Mourinho
A equipa de Mourinho jogava de uma forma mais vertical, mais directa e mais
eléctrica. O seu contra-ataque era impar, mas contava com um plantel sem
segundas soluções ou alternativas para posições chave, e isso, acabou por
“matar” pouco a pouco a equipa madrilena.
O plantel foi surpreendido por muitas lesões, sobretudo em posições que não
possuíam segundas opções. Mourinho apresentava “onzes” completamente
remediados, desequilibrados. A equipa jogava em esforço, sofria para vencer e
dependia sobretudo do luso Cristiano Ronaldo, que ainda por cima, se sentia
triste.
Florentino não pretende assistir ao mesmo filme, e por isso, decidiu
liderar uma campanha de renovação do plantel que já vem tarde, mas para o
madridismo, mais vale tarde que nunca!
Contratações
e limpeza no plantel
Isco, Illarra, Carvajal e Bale são opções de primeira linha para o sistema
de jogo pretendido, mas não são suficientes. Se olharmos para o ataque,
continua a faltar o tal 9 indiscutível, o goleador, que Mou havia pedido desde
o primeiro dia. Os únicos que se assemelham a essa descrição, são os jovens
Jesé e Morata, que são promessas asseguradas, mas que ainda lhes falta
kilometros para atingir a maturidade desejada.
Após a saída de Higuain, Benzema é o último moicano, o único possível no
que toca a vestir a camisola 9. O francês tem andado enganado todos estes anos,
tanto na selecção francesa como no Real Madrid, e é uma pena, porque temos
saudades dos tempos em que jogava no Lyon, onde deslumbrava em apoio ao tal 9,
Fred ou Baros na altura.
As saídas de Kaká, Ozil, Higuain, Callejón, Carvalho e Albiol,
justificam-se sobretudo pela vontade própria dos jogadores, que procuram uma
titularidade indiscutível, coisa que no Real Madrid estava longe de acontecer.
A saída do alemão, não prejudica o novo sistema de Ancelotti, que desde que
chegou, apostou sempre em Isco e Modric como organizadores de jogo, relegando
Ozil para extremo direito e muitas vezes para o banco de suplentes. Ozil
procura um ambiente onde se sinta desejado, onde tenha a confiança absoluta do
seu treinador, e viajar para Londres foi uma boa decisão.
As restantes saídas limpam um balneário já saturado pelo desgaste das críticas,
nenhum dos jogadores tinha um papel fundamental, pelo contrário, à excepção de
Callejón, todos tinham sido alvo de muitas críticas durante as épocas
transactas.
O centro da defesa será disputada por Varane, Ramos e Pepe, este último
bastante polémico na fase final da época passada. Com a saída de Carvalho e
Albiol, será o jovem Nacho a aparecer na luta com estes três jogadores, o que
parece pouco para um clube que luta em todas as competições, em especial pela
“décima”.
O lateral direito continua a deixar muitas dúvidas, Arbeloa pelo seu
deficiente apoio ao ataque e Carvajal pela sua imaturidade defensiva, fazem
desta posição o calcanhar de Aquiles da equipa merengue.
Falar em Bale
é falar em potência, verticalidade, remate e velocidade.
Começou a lateral esquerdo e depressa passou a extremo. Ultimamente no
Tottenham, jogava muito pelo interior, e com bons resultados. Não há dúvidas
que é uma grande contratação, mas certamente que os 95 Milhões pesarão na hora
do julgamento. Com Bale a equipa ganha pulmão, presença e decisão, mas tal como
Ronaldo, fica a dúvida de como reagirá Bale com um estilo de jogo mais pausado e
teoricamente mais fechado.
Isco é na
actualidade, o jogador mais próximo das características de Iniesta. Jogador
inteligente, com capacidade inata de condução de bola, finalização e
verticalidade, cuida e protege a bola como poucos. As suas pausas, misturadas
com explosões verticais são o seu forte, dá horizontalidade ao jogo e baralha
posições no adversário. Aparece na área para finalizar e o seu remate de meia
distancia é toda uma garantia para o novo Real Madrid. Uma contratação acertada
que se adapta a todos os sistemas de jogo do técnico italiano.
Illarra e Casemiro dão garantias defensivas, mas deixam bastantes dúvidas
em relação à sua condução de bola. As suas contratações visavam tapar as lesões
e o cansaço de Xabi Alonso, mas entretanto apareceu Modric, que nos últimos
jogos respondeu à chamada com exibições de grande nível, fazendo mesmo, esquecer
a qualidade do jogador vasco.
Boa intenção
de Ancelotti num projecto ainda muito verde.
Nos jogos já realizados, o Real Madrid foi incapaz de convencer e impor o
seu novo estilo de jogo. Os resultados acabaram por ser positivos, mas a
vitoria provem de rasgos individuais e de momentos pontuais de superioridade.
A intenção do italiano é boa, o Real Madrid precisa de um sistema de jogo
mais estruturado, com regras naturais que o permitam encarar qualquer tipo de
pressão. O jogo baseado na saída em posse de bola com vantagem numérica dá bons
resultados, mas nem sempre é eficaz. Para isso necessita de laterais bem
ofensivos, de médios interiores com capacidade de condução e atributos vincados
de um box-to-box.
Por outro
lado, este sistema de jogo altera os momentos de Ronaldo.
O português terá menos bola, sendo agora Isco o responsável por cair no
lado esquerdo do meio campo e conduzir a saída juntamente com Marcelo.
Cristiano será obrigado a ocupar espaços mais centrais, mais fechados, onde
perde verticalidade, perde velocidade e terá menos oportunidade para disparar.
A ideia de Ancelotti não é de todo mal pensada, e não se trata de
substituir Isco por Ronaldo na tarefa de transição, mas sim, empurrar o
português para o último terço do campo. Resta saber se CR7 se sentirá cómodo
com esta posição num estilo de jogo mais estático.
O estilo de jogo
contempla uma transição segura, mais lenta e apoiada em jogadores com maior
capacidade de condução.
O técnico italiano já mostrou que tentará impor o seu estilo de jogo, e o 4-1-4-1 desdobrado em 4-3-3, parece ser o favorito. Ao contrario do 4-2-3-1 de Mou, Carlo pretende mais jogadores no sector intermédio, e se possível jogadores com boa capacidade de transporte de bola. Defensivamente, o estilo é simples e similar ao do ano passado, duas linhas de 4 jogadores, muito próximas, tentando fechar os espaços entrelinhas criando a habitual armadilha do fora de jogo. Isco será o responsável por fechar o lado esquerdo do meio campo, deixando Ronaldo livre de responsabilidades defensivas.
No esquema apresentado, exemplificamos como se formam os dois triângulos durante a transição defesa-ataque.
Uma das grandes dúvidas será como e onde incluir Khedira
neste esquema de jogo. O alemão, é o melhor box-to-box do plantel, mas falta-lhe capacidade na condução de bola. A sua presença é a mais compatível com Xabi Alonso, masintroduzir Khedira neste sistema, será desequilibrar a saída de bola, principalmente se coincidir com Arbeloa no onze.
Transições mais delicadas, mais técnicas, mais pausadas e pacientes, são as grandes novidades deste novo Real Madrid.
A equipa precisa de tempo para
interiorizar o estilo de jogo do italiano, que certamente não desistirá de o
aplicar. O plantel tem mais qualidade este ano, Isco, marca um novo estilo de
jogo e encaixa na perfeição, Bale, equilibra a qualidade nas alas, mas
sobretudo dá sangue novo, dá mais frescura a este Real Madrid.
O
plantel “emagreceu”, mas ganhou qualidade no meio campo.
A equipa continua com algumas
lacunas, mas há esperança que jogadores como Carvajal, Morata, Jesé e até mesmo
Nacho surpreendam, não com a sua inquestionável qualidade, mas com maturidade
suficiente para lutar pela titularidade.
Factores como, adaptação de
Cristiano e Bale, lesões em sectores sensíveis ou mesmo resposta de Benzema aos
apupos de que tem sido alvo, irão ditar o destino de este jovem Real Madrid.
Ainda faltam soluções no plantel, e Florentino será certamente obrigado a
intervir novamente, já em Janeiro.
O
Real Madrid ainda joga à Mourinho, mas já se notam as alterações de Carlo
Ancelotti.
Estão à porta exames de
dificuldade elevada, e todos sabemos que o plantel tem qualidade para aprovar,
mas fica a dúvida se seguirão usando os apontamentos do Special One, ou por
fim, recorrem aos novos de Carlo Ancelotti.
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