terça-feira, 17 de setembro de 2013

Villarreal - Real Madrid 14/09/13 :: Publicado na Futebol Portugal Magazine #2

No passado sábado, o Real Madrid viajou a Castellón para defrontar o Villarreal. Ambas as equipas partiam com o mesmo número de pontos para um jogo, que já se previa ser de grande intensidade. O resultado foi de um empate a duas bolas com ascendente para a equipa da casa.

Este era o primeiro grande exame de Ancelotti, e por azar, faltavam elementos chave. Como descrito no artigo desta edição “Análise táctica ao Real Madrid”, o técnico italiano tenta mudar velhos hábitos e implementar o seu estilo de jogo, mas está longe de o conseguir.

A equipa reprovou no exame, sentiu-se incomoda durante todo o jogo, e nesta análise tentamos explicar o porquê!

Onze inicial com importantes ausências e opções precipitadas.
No onze inicial madridista vimos de tudo no que toca a posicionamentos, primeiras, segundas e até terceiras opções. A inclusão de Illarramendi foi a grande surpresa, não tanto pela sua falta de ritmo, mas pelas excelentes exibições que Modric tem vindo a demonstrar nessa mesma posição. Esta decisão demonstra a urgência de Ancelotti em impor o seu jogo, a urgência de juntar Modric a Isco no interior do meio campo criativo.

Na baliza o melhor jogador do Real Madrid em Castellón, Diego Lopez. Uma vez mais o guarda-redes galego justificou a titularidade com uma exibição galáctica.

A defesa obteve nota muito abaixo do exigido. Pepe e Sérgio Ramos sentiram a inclusão de Nacho e Carvajal no onze. Foram obrigados a fazer mais dobras, a deslocarem-se da sua posição natural e a serem mais faltosos. A ausência de Xabi Alonso faz-se sentir, principalmente contra equipas como o Villarreal, que se sentem cómodas jogando pelo corredor interior. A equipa esteve permeável, e muito devido a um lateral direito limitado defensivamente, e a um lateral esquerdo de terceira opção.
No meio campo, Ancelotti colocou Illarramendi como médio defensivo, decidindo empurrar Modric para o lado de Isco. A ideia é a base do seu estilo de jogo, criar uma saída de bola mais controlada com médios interiores com grande capacidade de condução e verticalidade. O sistema triangular de transição falhou, certo que muito pela falta de Marcelo do lado esquerdo, mas também pela notória preocupação de Modric em proteger Illarramendi em tarefas defensivas.

Na frente, a inclusão de Bale foi uma surpresa, o que demonstra uma clara dualidade de critérios de Ancelotti na hora de decidir, tendo em conta a união do grupo e a motivação dos jogadores. O galês está longe da sua melhor forma, mas promete, jogou apenas com paixão, com vontade, e apenas isso foi suficiente para apontar o primeiro golo do Real Madrid.

Cristiano Ronaldo parece longe de estar confortável com este sistema de jogo, e as suas fracas exibições são preocupantes. Os seus melhores momentos aparecem quando o Real Madrid joga à Mourinho, com transições rápidas e muito espaço na frente de ataque. O seu golo surge precisamente num desses momentos.

Por fim Benzema, o internacional francês demonstrou uma vez mais as suas carências na posição de 9, realizando um jogo medíocre.

Apenas Diego Lopez se opôs à qualidade do Villarreal.
A equipa de Marcelino Garcia foi melhor em todo o jogo, criou mais ocasiões de golo, foi mais organizada, mais equilibrada nas transições e certamente que o resultado seria outro caso Diego Lopez não estivesse presente no Madrigal.

Primeira parte “atrapalhada” de Ancelotti
Durante toda a primeira parte, a equipa da casa dominou o meio campo por completo. A incorporação de Illarramendi como médio defensivo, e a sua falta de ritmo, manteve Modric bastante ocupado com tarefas defensivas. Com a ausência de Marcelo no corredor esquerdo, e a pouca verticalidade de Nacho, Isco sentiu-se bastante limitado e nunca encontrou um equilíbrio que lhe permitisse sair a jogar. Com estes dois sectores limitados, o Real Madrid falhava na saída de bola em construção, e jogava longe da baliza de Asenjo.

O primeiro golo do Villarreal surge aos 20’ e após 3 grandes intervenções do guarda-redes madridista. Cani foi o autor, num lance em que ficou bem demonstrada a falta de entrosamento da equipa de Ancelotti no sector defensivo.
O Real Madrid estava lento, desposicionado e sem ideias. O trio ofensivo estava muito longe dos médios criativos, e Benzema era obrigado a descer no terreno para ajudar a saída de bola. Isco tentava sair, mas sem sucesso, faltava apoio, tanto na ala esquerda como no interior do terreno.
Ao minuto 38, assistimos pela primeira vez, a um lance com assinatura do técnico italiano. Na única saída de bola perfeita do Real Madrid, pelo lado direito, o triangulo Modric, Carvajal e Illaramendi demonstraram a todo o madridismo que é possível mudar o estilo de jogo, e com uma jogada perfeita, fabricaram um golo exemplar, finalizado pelo estreante Bale.
As equipa pareciam soltar-se, o jogo estava mais entretido, mais aberto, mas as ideias eram as mesma e as bolas perdidas por ambas as equipas continuavam a predominar, até chegar o intervalo.

Na segunda parte, o técnico italiano fez “reset” ao estilo de jogo.
Apenas aos 15 minutos da segunda parte, Ancelotti percebeu que o sistema tinha que mudar. Faltava mais conexão entre o meio campo e o ataque, e os estreantes Illarra e Bale estavam esgotados. O Villarreal continuava a dominar o meio campo, e por essa razão, entrava Khedira por Illarra, recuando Modric. A ideia era voltar ao sistema de jogo habitual, o de Mou, com saídas de bola mais rápidas, mais eléctricas, com Cristiano a receber numa zona mais recuada e com Isco a aparecer numa zona mais central, no papel do ex-jogador do Real Madrid, Mezut Ozil.

Khedira entrou mal no jogo, algo desmotivado, tal como Di Maria. Ambos pareciam contrariados, sem vontade de jogar. O alemão sente falta de Xabi Alonso, o seu par ideal, e o argentino pareceu não perceber a entrade de Bale no onze, e talvez com razão. Di Maria vem sendo nos últimos jogos, a chave de Ancelotti com diagonais decisivas e desmarcações rápidas nas costas da defesa contraria. Ontem foi suplente!

A equipa ganhou mais velocidade, e num lance de transição rápida, Ronaldo como “peixe na água”, deu vantagem à equipa madrilena.
Tudo parecia encaminhar-se para um final de jogo partido, desorganizado, onde os mais rápidos e criativos ganham vantagem. Mas isso não aconteceu!
Tudo mudou ao minuto 69! Modric esqueceu-se que Illarramendi já tinha sido substituído, e com algum cansaço à mistura, colocou uma passadeira vermelha para que Cani brilhasse com uma espectacular entrada pelo interior. O jogador do Villarreal conseguiu desferir um remate fantástico, sem oposição, frente a um Pepe bastante permissivo.  À imagem do primeiro golo, Diego Lopez respondeu a um primeiro remate, mas devido a uma permissividade preocupante dos defesas do Real Madrid, Giovanni, empurrou para o fundo da baliza. A Carvajal, só lhe faltava mesmo festejar junto dos jogadores do Villareal!
Estava feito o 2-2 e até final do encontro assistimos a um ataque fulminante do submarino amarelo contra um Diego Lopez nota 10.
A haver um vencedor seria o Villarreal, mas tão pouco seria justo. A grande exibição de um super Diego Lopez salvou Carlo Ancelotti da sua primeira derrota na liga espanhola.
O técnico italiano afirmou no seu primeiro dia, que o Real Madrid tem que vencer jogando um futebol espectacular, mas ao que parece, apenas um jogador o ouviu, Diego Lopez, que grande jogo!

O Real Madrid conta com “Plano A melhorado”, mas continua a faltar o “Plano B”
Vem aí a Liga dos Campeões! O nível é outro, e esperemos que as exibições do Real Madrid sejam bem diferentes. No passado sábado já conseguimos ver uma breve demonstração do novo estilo de jogo, mas foi pouco!
Continuam os mesmos problemas do ano passado, com lesões em sectores importantes a obrigar o treinador a introduzir no onze, terceiras opções.

O plano B continua sem se ver, e contra equipas que pressionam bem, sair em condução de bola só é possível com um bom equilíbrio no triangulo de construção. Caso contrario, é necessário um plano B, que consiste basicamente em fazer um transporte directo para o ponta-de-lança, o tal jogador que ainda não apareceu! 

Novo Real Madrid de Ancelotti :: Publicado na Futebol Portugal Magazine #2

Com o mercado de transferências fechado, é altura de fazer uma análise ao “novo” Real Madrid.
Após o “descalabro” desportivo do ano transacto, causado sobretudo pela falta de soluções em determinados sectores do plantel, Florentino Pérez decidiu ir ao mercado em busca de novos recursos. Carlo Ancelotti foi o treinador escolhido para liderar uma equipa com hábitos tácticos bem intrínsecos e com um passado recente algo turbulento.
O treinador italiano veio com ideias claras e vontade de impor o seu estilo de jogo. Para que isso aconteça, uma mudança no antigo plantel de Mou era inevitável. A contratação de um jogador capaz de aguentar a posse de bola no último terço sem risco de a perder, à imagem de Modric, mas com mais verticalidade, mais finalização e mais capacidade no 1 para 1.
Ancelotti quer dominar a posse de bola, quer ataques mais pausados e prolongados, quer uma transição defesa-ataque com maior identidade e superioridade numérica.
O clube mais prestigioso do mundo tem que ganhar jugando um futebol espectacular”, disse Carlo no seu primeiro dia.
Reforçar o meio campo com médios interiores capazes de transportar a bola como Modric ou Isco é o primeiro passo, mas não chega. A construção de jogo dependerá sempre de um equilíbrio em ambas as alas, formado por triângulos base estruturais. A linha de meio campo agrupa 5 jogadores chave na transição, com Xabi Alonso a ser o preferido para comandar a saída de bola, seja pelas alas, seja pelo espaço interior.
O técnico italiano muda o sistema de jogo de Mourinho
A equipa de Mourinho jogava de uma forma mais vertical, mais directa e mais eléctrica. O seu contra-ataque era impar, mas contava com um plantel sem segundas soluções ou alternativas para posições chave, e isso, acabou por “matar” pouco a pouco a equipa madrilena.
O plantel foi surpreendido por muitas lesões, sobretudo em posições que não possuíam segundas opções. Mourinho apresentava “onzes” completamente remediados, desequilibrados. A equipa jogava em esforço, sofria para vencer e dependia sobretudo do luso Cristiano Ronaldo, que ainda por cima, se sentia triste.
Florentino não pretende assistir ao mesmo filme, e por isso, decidiu liderar uma campanha de renovação do plantel que já vem tarde, mas para o madridismo, mais vale tarde que nunca!
Contratações e limpeza no plantel
Isco, Illarra, Carvajal e Bale são opções de primeira linha para o sistema de jogo pretendido, mas não são suficientes. Se olharmos para o ataque, continua a faltar o tal 9 indiscutível, o goleador, que Mou havia pedido desde o primeiro dia. Os únicos que se assemelham a essa descrição, são os jovens Jesé e Morata, que são promessas asseguradas, mas que ainda lhes falta kilometros para atingir a maturidade desejada.
Após a saída de Higuain, Benzema é o último moicano, o único possível no que toca a vestir a camisola 9. O francês tem andado enganado todos estes anos, tanto na selecção francesa como no Real Madrid, e é uma pena, porque temos saudades dos tempos em que jogava no Lyon, onde deslumbrava em apoio ao tal 9, Fred ou Baros na altura.
As saídas de Kaká, Ozil, Higuain, Callejón, Carvalho e Albiol, justificam-se sobretudo pela vontade própria dos jogadores, que procuram uma titularidade indiscutível, coisa que no Real Madrid estava longe de acontecer.
A saída do alemão, não prejudica o novo sistema de Ancelotti, que desde que chegou, apostou sempre em Isco e Modric como organizadores de jogo, relegando Ozil para extremo direito e muitas vezes para o banco de suplentes. Ozil procura um ambiente onde se sinta desejado, onde tenha a confiança absoluta do seu treinador, e viajar para Londres foi uma boa decisão.
As restantes saídas limpam um balneário já saturado pelo desgaste das críticas, nenhum dos jogadores tinha um papel fundamental, pelo contrário, à excepção de Callejón, todos tinham sido alvo de muitas críticas durante as épocas transactas.
O centro da defesa será disputada por Varane, Ramos e Pepe, este último bastante polémico na fase final da época passada. Com a saída de Carvalho e Albiol, será o jovem Nacho a aparecer na luta com estes três jogadores, o que parece pouco para um clube que luta em todas as competições, em especial pela “décima”.
O lateral direito continua a deixar muitas dúvidas, Arbeloa pelo seu deficiente apoio ao ataque e Carvajal pela sua imaturidade defensiva, fazem desta posição o calcanhar de Aquiles da equipa merengue.
Falar em Bale é falar em potência, verticalidade, remate e velocidade.
Começou a lateral esquerdo e depressa passou a extremo. Ultimamente no Tottenham, jogava muito pelo interior, e com bons resultados. Não há dúvidas que é uma grande contratação, mas certamente que os 95 Milhões pesarão na hora do julgamento. Com Bale a equipa ganha pulmão, presença e decisão, mas tal como Ronaldo, fica a dúvida de como reagirá Bale  com um estilo de jogo mais pausado e teoricamente mais fechado.
Isco é na actualidade, o jogador mais próximo das características de Iniesta. Jogador inteligente, com capacidade inata de condução de bola, finalização e verticalidade, cuida e protege a bola como poucos. As suas pausas, misturadas com explosões verticais são o seu forte, dá horizontalidade ao jogo e baralha posições no adversário. Aparece na área para finalizar e o seu remate de meia distancia é toda uma garantia para o novo Real Madrid. Uma contratação acertada que se adapta a todos os sistemas de jogo do técnico italiano.
Illarra e Casemiro dão garantias defensivas, mas deixam bastantes dúvidas em relação à sua condução de bola. As suas contratações visavam tapar as lesões e o cansaço de Xabi Alonso, mas entretanto apareceu Modric, que nos últimos jogos respondeu à chamada com exibições de grande nível, fazendo mesmo, esquecer a qualidade do jogador vasco.
Boa intenção de Ancelotti num projecto ainda muito verde.
Nos jogos já realizados, o Real Madrid foi incapaz de convencer e impor o seu novo estilo de jogo. Os resultados acabaram por ser positivos, mas a vitoria provem de rasgos individuais e de momentos pontuais de superioridade.
A intenção do italiano é boa, o Real Madrid precisa de um sistema de jogo mais estruturado, com regras naturais que o permitam encarar qualquer tipo de pressão. O jogo baseado na saída em posse de bola com vantagem numérica dá bons resultados, mas nem sempre é eficaz. Para isso necessita de laterais bem ofensivos, de médios interiores com capacidade de condução e atributos vincados de um box-to-box.
Por outro lado, este sistema de jogo altera os momentos de Ronaldo.
O português terá menos bola, sendo agora Isco o responsável por cair no lado esquerdo do meio campo e conduzir a saída juntamente com Marcelo. Cristiano será obrigado a ocupar espaços mais centrais, mais fechados, onde perde verticalidade, perde velocidade e terá menos oportunidade para disparar.
A ideia de Ancelotti não é de todo mal pensada, e não se trata de substituir Isco por Ronaldo na tarefa de transição, mas sim, empurrar o português para o último terço do campo. Resta saber se CR7 se sentirá cómodo com esta posição num estilo de jogo mais estático.
O estilo de jogo contempla uma transição segura, mais lenta e apoiada em jogadores com maior capacidade de condução.

O técnico italiano já mostrou que tentará impor o seu estilo de jogo, e o 4-1-4-1 desdobrado em 4-3-3, parece ser o favorito. Ao contrario do 4-2-3-1 de Mou, Carlo pretende mais jogadores no sector intermédio, e se possível jogadores com boa capacidade de transporte de bola. Defensivamente, o estilo é simples e similar ao do ano passado, duas linhas de 4 jogadores, muito próximas, tentando fechar os espaços entrelinhas criando a habitual armadilha do fora de jogo. Isco será o responsável por fechar o lado esquerdo do meio campo, deixando Ronaldo livre de responsabilidades defensivas.
No esquema apresentado, exemplificamos como se formam os dois triângulos durante a transição defesa-ataque.
Uma das grandes dúvidas será como e onde incluir Khedira 

neste esquema de jogo. O alemão, é o melhor box-to-box do plantel, mas falta-lhe capacidade na condução de bola. A sua presença é a mais compatível com Xabi Alonso, masintroduzir Khedira neste sistema, será desequilibrar a saída de bola, principalmente se coincidir com Arbeloa no onze.

Transições mais delicadas, mais técnicas, mais pausadas e pacientes, são as grandes novidades deste novo Real Madrid.
A equipa precisa de tempo para interiorizar o estilo de jogo do italiano, que certamente não desistirá de o aplicar. O plantel tem mais qualidade este ano, Isco, marca um novo estilo de jogo e encaixa na perfeição, Bale, equilibra a qualidade nas alas, mas sobretudo dá sangue novo, dá mais frescura a este Real Madrid.
O plantel “emagreceu”, mas ganhou qualidade no meio campo.
A equipa continua com algumas lacunas, mas há esperança que jogadores como Carvajal, Morata, Jesé e até mesmo Nacho surpreendam, não com a sua inquestionável qualidade, mas com maturidade suficiente para lutar pela titularidade.
Factores como, adaptação de Cristiano e Bale, lesões em sectores sensíveis ou mesmo resposta de Benzema aos apupos de que tem sido alvo, irão ditar o destino de este jovem Real Madrid. Ainda faltam soluções no plantel, e Florentino será certamente obrigado a intervir novamente, já em Janeiro.

O Real Madrid ainda joga à Mourinho, mas já se notam as alterações de Carlo Ancelotti.

Estão à porta exames de dificuldade elevada, e todos sabemos que o plantel tem qualidade para aprovar, mas fica a dúvida se seguirão usando os apontamentos do Special One, ou por fim, recorrem aos novos de Carlo Ancelotti.