Abelhas
Operárias Vs. Abelha Rainha
É sem dúvida uma das edições mais equilibradas dos
últimos anos, a batalha entre espanhóis e alemães está prestes a iniciar.
Real Madrid e Borussia Dortmund entram esta quarta-feira
em campo, protagonizando uma meia-final, que mesmo inclinada para o lado
merengue, intimida qualquer previsão. Teoricamente, os alemães entram nas
meias-finais como o clube menos favorito à vitória final, mas muitos
lembrar-se-ão ainda, da edição anterior, onde o também menos favorito Chelsea
arrasou todos os prognósticos e previsões, conquistando a taça de uma maneira
absolutamente surpreendente. Será o Dortmund capaz de tal proeza?
É verdade que o Dortmund chega a esta fase, mais forte
que o Chelsea de Di Matteo da edição anterior, mas falta-lhe uma referência de
nome na equipa, um jogador como Drogba, Messi ou Cristiano Ronaldo que sozinho
possa fazer a diferença e resolver o jogo. O percurso dos alemães é exemplar, sendo
mesmo, o único semifinalista da prova ainda imbatível. Venceram o Real Madrid
na fase de grupos e passaram como primeiro classificado, deixando fora de prova
os milionários “árabes unidos” de Manchester e o histórico Ajax de Amesterdão.
Muito se tem escrito e falado acerca dos jogos contra o Real Madrid na fase
inicial da prova, e talvez por isso, haja um acréscimo de respeito em relação a
esta equipa alemã.
É certo que nos dois jogos entre ambos esta época, O Real
Madrid foi incapaz de impor o seu futebol e provar a sua superioridade. Apesar
da defesa “remendada” apresentada nos dois embates, os espanhóis sentiram
dificuldades sobretudo na transição defesa-ataque, muito devido à pressão
efectuada pelos alemães durante grande parte do jogo. Com laterais adaptados
sem capacidade de desequilibrar, e com Xabi Alonso pressionado e obrigado a
recuar bastante no terreno à procura de espaços vazios, coube a Pepe e Varane a
tarefa de sair a jogar, e aí sim, o Real Madrid sentiu bastantes dificuldades,
originando mesmo, o primeiro golo do Dortmund na Alemanha.
São
jogos e fases totalmente distintas, ambos estão mais fortes em relação aos
jogos da fase de grupos, sobretudo o Real Madrid que já poderá contar com um
defesa esquerdo de raíz.
Borussia Dortmund
Chega a esta meia-final carregando 3 anos de sucesso e
domínio no futebol alemão. É uma equipa ambiciosa e composta por jovens
talentos, que de uma forma natural, subiu ao patamar mais elevado do futebol
europeu.
Jurgen Klopp, treinador do Dortmund, impôs uma identidade
única a uma equipa que na época anterior à sua chegada, terminara a 9 pontos da
descida de divisão. O trabalho do técnico natural de Estugarda tem sido
admirável, conseguindo nos últimos anos, impor-se a um dos melhores planteis de
sempre do gigante Bayern de Munique.
O estilo de jogo da equipa “fluorescente” assenta
basicamente num futebol em bloco, bastante vertical e com uma intensidade única
e própria de jovens motivados, banhados em talento.
Num ritmo absolutamente eléctrico, a equipa de Klopp,
aposta na pressão alta e na rápida recuperação da posse de bola. A transição
defesa-ataque é de nível superior, com a verticalidade do seu jogo a imperar
numa combinação perfeita entre rapidez e primeiro toque. O plano B da equipa
alemã consiste nas bolas directas ao seu ponta-de-lança Lewandowski, permitindo
aos talentosos Gotze e Reus aproveitarem as segundas bolas de uma forma
absolutamente genial.
Onze
Inicial
O técnico alemão conta com todo o seu armamento para o
jogo desta quarta-feira, à excepção do capitão Sebastian Kehl. A boa notícia é
que Nuri Sahin, emprestado pelo Real Madrid aos alemães, poderá jogar contra os
espanhóis, visto que não há nenhuma cláusula que o impeça. Klopp tem vindo a
utilizar o turco com regularidade desde a sua chegada em janeiro, mas possivelmente
optará pelo jovem Bender ao lado do alemão de quem se fala ser o futuro substituto
de Xabi Alonso no Real Madrid, Ilkay Gundogan.
Tacticamente não há surpresas, o técnico alemão jogará no
habitual 4-2-3-1, pressionando a zona criativa do Real Madrid, blindando a
distribuição de jogo de Xabi Alonso e aproveitando as bolas perdidas do
adversário durante a transição defesa-ataque.
Pontos
fortes
Esta equipa trabalha exactamente como uma colónia de
abelhas (a sua mascote), defende atacando o inimigo, é disciplinada e convive
num sistema de extraordinária organização. Como em todas as colónias, existe um
líder, uma personagem central que se destaca, e no caso do Dortmund, é o
ponta-de-lança polaco, Lewandowski. Internamente desempenha o papel de abelha
rainha, mas internacionalmente ainda não lhe foi concedido esse mérito, é o
jogador mais importante da equipa, joga e faz jogar, para além de ser o
verdadeiro “matador”, é exímio de costas para a baliza. Forma uma tripla
ofensiva perfeita, com Gotze e Reus, rápidos, dinâmicos e com muito talento,
nos espaços entrelinhas e nas segundas bolas são letais. Hummels, titularíssimo
da selecção alemã e muito pretendido em Barcelona, lidera uma defesa forte que
sabe atacar, seja através de desequilíbrios potenciados pelos laterais Piszczek
e Schmelzer, como também nos lances de bola parada. Equipa muito bem preparada
fisicamente.
Pontos
fracos
Tal como as abelhas operárias,
o seu sistema defensivo pode levá-lo à “morte”. Pressionar em bloco após perda
de bola é uma das armas do Dortmund, mas pode tornar-se num verdadeiro
suicídio, isto se, o adversário se liberar rapidamente da primeira linha de
pressão e desequilibrar pelos flancos. Quando isto acontece, o adversário
encara uma defesa ligeiramente adiantada no terreno, pouco apoiada permitindo sobretudo
muitas desmarcações nas costas. O Real Madrid é uma equipa forte na transição
ofensiva, e aproveitará certamente qualquer descompensação na transição
ataque-defesa da equipa alemã. É uma equipa jovem, pouco habituada a estes
palcos, o que nesta fase da competição, pode trazer complicações. Nenhuma
referência na equipa, em comparação com os restantes adversários.
Real Madrid
É um facto que a equipa de José Mourinho está mais madura
e mais confiante, mas é também notória a irregularidade da equipa ao longo
desta temporada, seja por lesões em sectores críticos, ou por carência de
motivação em jogos de caracter não decisivo. Certo é, que durante toda a época,
a equipa respondeu positivamente nos jogos a eliminar, conseguindo exibições
categóricas em palcos de grande dificuldade. A conquista da supertaça
espanhola, a passagem à final da taça do Rei e a passagem à semifinal da liga
dos campeões, catalogam os madrilenos de máquinas implacáveis na hora do
mata-mata.
Pontos fortes
Maturidade e disciplina táctica. Os espanhóis contam com
mais experiência e soluções no banco que o clube alemão.
Cristiano Ronaldo está na melhor forma de sempre, só em
2013, marcou 27 golos em apenas 22 jogos.
O contra-ataque é único, explosivo, rápido e poderá ser a
solução para o jogo em Dortmund.
Poderá contar com o box-to-box, Khedira, o médio alemão
saiu lesionado no primeiro jogo contra o Dortmund e esteve ausente no segundo.
Para além de ser um verdadeiro tampão no meio campo, é também, um jogador chave
no plano táctico ofensivo de Mourinho. Não há nenhum jogador no plantel que o
substitua, e seja capaz de atacar e defender com tanta qualidade. Facto bem
visível, nos dois jogos contra os alemães, e na sua influente entrada no jogo
em casa contra o Barcelona, a contar para a Liga Espanhola.
Pontos
fracos
Continuam os problemas nas laterais, Essien e Marcelo são
ausências confirmadas, Arbeloa está castigado e Coentrão está em dúvida. Sergio
Ramos será forçado a jogar no lado direito e caso Coentrão não recupere a tempo,
será o jovem Nacho a assumir a posição.
Luca Modric saiu tocado do jogo com o Bétis e está em
dúvida para o jogo em Dortmund.
Apesar de ter melhorado, as bolas paradas continuam a ser
um problema para a defesa merengue.
Dificuldades em segurar a bola de costas para a baliza,
nem Benzema, nem Higuain, têm essa característica, o que dificulta a saída com
bolas directas para o ponta-de-lança.
Onze
Inicial
O técnico português, à excepção de limitações nas
laterais, conta com o restante plantel disponível, isto se, Modric e Coentrão recuperarem
a tempo do jogo.
O onze inicial não apresentará surpresas, da defesa para a
frente, o Real Madrid jogará com o seu onze de gala, sendo a única dúvida a
titularidade de Higuaín ou Benzema.
Tacticamente Mourinho deverá iniciar o jogo em Dortmund
com o habitual 4-2-3-1, passando para 4-1-2-3, libertando Khedira para um
sector mais ofensivo.
Figuras
do jogo
Ganha
de longe o Real Madrid, com uma referência de peso, Cristiano Ronaldo.
Lewandowski é a figura do Dortmund, pelo que joga e faz jogar, mas está longe
da qualidade do astro português.
Lances
Chave
Bolas
paradas e transições rápidas com desmarcações nas costas.
Curiosidade:
A última meia-final dos alemães foi há 15 anos, e precisamente
contra o Real Madrid. No dia 1 de abril de 1998, o Dortmund na altura campeão
em título, perdera por 2-0 num jogo que iniciou 1 hora e 15 minutos depois da
hora prevista. O atraso deveu-se à curiosa queda da baliza, no topo sul do
estádio Santiago Bernabeu. Os responsáveis do Real Madrid, sem baliza de
substituição disponível no estádio (o que levou a uma multa da UEFA de 700.000
euros e um jogo de suspensão), tiveram que se deslocar à cidade desportiva (na
época a apenas 2km do estádio) e trazer uma nova.
Apesar deste incidente o Real qualificou-se para a final,
acabando por vencer a Juventus, conquistando assim a 7ª Taça dos campeões
europeus.
Prognóstico da eliminatória
Tal como foi dito anteriormente, é uma eliminatória que
intimida qualquer previsão, mas teoricamente é indiscutível o favoritismo da
equipa madrilena.